Bom, vamos então começar essa tag/categoria falando de um assunto polêmico e chato (inacreditável certas coisas que passamos em pleno século XXI)...
A atriz Jennifer Aniston(Muitos conhecem ela de Friends, mas ela já participou de vários filmes, como o de comédia que eu adoro, "Esposa de mentirinha" com Adam Sandler de 2011.) publicou uma carta aberta em resposta a uma publicação de um tabloide americano, onde ela e o marido são a capa. A manchete da revista "parabeniza" pela gravidez da atriz.
Até aí, você deve estar pensando: -Normal! Existem várias revistas de fofocas espalhadas pelo mundo.
Mas o que deu o que falar após a publicação, foi a resposta que a atriz deu ao site Huffington Post explicando que não está grávida e sim farta de tanta especulação sobre sua vida pessoal e seu corpo, intitulada "Para que fique registrado".
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Foto:Reprodução(Google) |
Jennifer tem sua vida bombardeada de especulações desde que era casada com o também ator Brad Pitt e isso não acabou depois da separação deles.
Na verdade, piorou. Acredito que seja porque o Brad casou outra vez e tem filhos biológicos e do coração (adotados) com a atriz Angelina Jolie. E aí que já vi matérias dizendo que Jennifer saiu perdendo desse casamento, sem filhos, sem marido...
Oi, como assim?
Quer dizer que agora a mulher só pode ser considerada bem sucedida na vida se tiver um marido e filhos para chamar de seus?
É, quer dizer... Mesmo estando no século XXI, ainda batemos de frente com questões machistas que tanto nos atrapalham e nos definem erradamente!
“Não precisamos ser casadas ou mães para ser completas. Nós que determinamos nosso próprio ‘felizes para sempre’"
Segue a carta da atriz.
Prepare-se para um desabafo que vai mexer com o seu mundinho e com a sua mente.
Eita, empoderamento! Parabéns, Jennifer! 👏👏👏
“Deixe-me começar dizendo que dar atenção a fofocas é algo que eu nunca fiz. Eu não gosto de dar energia para o negócio das mentiras, mas eu queria participar de uma conversa mais ampla que já começou e deve continuar. Como estou fora das redes sociais, decidi colocar meus pensamentos aqui, por escrito.
Para deixar registrado, não estou grávida. O que eu tenho é fartura. Estou farta desses padrões e formas de envergonhar nossos corpos que vejo diariamente sob o disfarce de “jornalismo” e “notícias de celebridades.”
Todos os dias, o meu marido e eu somos assediados por dezenas de fotógrafos agressivos, estacionados à porta de nossa casa, que vão até às últimas consequências para conseguir qualquer tipo de foto, mesmo que isso signifique colocar-nos em perigo ou a quem tenha o azar de passar por ali. Mas deixando de lado o aspecto da segurança pública, quero me concentrar na figura maior do que este ritual dos tabloides insanos representa para todos nós.
Se eu sou algum tipo de símbolo para algumas pessoas lá fora, então é claro que eu sou um exemplo da lente através da qual nós, como uma sociedade, vemos as nossas mães, filhas, irmãs, esposas, amigas e colegas. A objetivação e padrões que colocamos em cima das mulheres é um absurdo e uma ideia perturbadora. A forma como sou retratada pela mídia é simplesmente um reflexo da maneira como vemos e retratamos as mulheres em geral, comparadas com um qualquer padrão distorcido de beleza. Às vezes, os padrões culturais só precisam de uma perspectiva diferente, para que possamos vê-los como realmente são – a aceitação coletiva … um acordo subconsciente. Nós estamos no comando do nosso acordo.
As meninas em todos os lugares estão absorvendo o nosso acordo, passiva ou de outra forma. E isso começa cedo. A mensagem de que as meninas não são lindas porque não são incrivelmente magras, que não são dignas de nossa atenção, a menos que sejam uma supermodelo ou atriz na capa de uma revista, é algo que estamos todos comprando e aceitando de boa vontade. Este condicionamento é algo que as meninas, em seguida, levar para vida com o amadurecimento. Usamos “notícias” de celebridades para perpetuar essa visão desumana das mulheres, focado apenas na aparência física, o que os tabloides fazem como se tudo não passasse de um evento esportivo de especulação. “Ela está grávida?” “Ela está comendo demais?” “Será que ela se perdeu?”
Eu costumava dizer a mim mesma que tabloides eram como histórias em quadrinhos, algo para não ser levado a sério, apenas uma novela para as pessoas seguirem quando precisarem de uma distração. Mas eu realmente não posso mais dizer isso porque a realidade é uma só: estão nos perseguindo e objetificando como se não tivéssemos valores. E isso, eu experimentei em primeira mão, durante as últimas em décadas, refletindo em uma maneira errada de vermos o real valor de uma mulher.
Este mês passado, em particular, foi para mim a prova do quanto nós resumimos o valor de uma mulher com base no seu estado civil e materna. A enorme quantidade de recursos gastos nesse exato momento pela imprensa na tentativa de descobrir se eu estou ou grávida, mostra um pouca da noção de que as mulheres são de alguma forma incompletas e sem sucesso, ou infelizes se eles não forem casadas e com filhos. Neste último e chato ciclo de notícias sobre minha vida pessoal, houve fuzilamentos em massa, incêndios florestais, as principais decisões do Supremo Tribunal, uma próxima eleição, e muitas outras questões dignos de atenção que estes “jornalistas” poderiam ter se dedicado.
Agora é a hora de sair deste assunto: estamos completos com ou sem um companheiro, com ou sem uma criança. Nós começamos a decidir por nós mesmos, o que é belo quando se trata de nossos corpos. Essa decisão é nossa, e só nossa. Vamos tomar essa decisão para nós e para as jovens mulheres neste mundo que olham para nós, artistas, como exemplos. Vamos tomar essa decisão de forma consciente, fora do universo tabloide. Nós não precisamos ser casadas ou mães pra estarmos completas. Nós decidimos como será o nosso próprio “felizes para sempre”.
Cansei de fazer parte desta narrativa. Sim, um dia poderei ser mãe e, já que estamos a pôr tudo a limpo, se alguma vez isso acontecer, serei a primeira a contar. Mas não procuro ser mãe agora porque me sinto, de alguma forma, incompleta, não comigo, mas com a nossa cultura de notícias de celebridades. Me ofende profundamente que façam com que eu me sinta menor só porque o meu corpo está mudando e/ou comi um hambúrguer no almoço e fui fotografada de um ângulo esquisito. E, por isso, estou condenada a uma de duas coisas: “grávida” ou “gorda”. Isso sem contar do constrangimento doloroso que acontece quando se recebe os parabéns de amigos, colegas de trabalho e estranhos por uma gravidez fictícia (o que acontece muitas vezes num só dia).
A partir de anos de experiência, aprendi algumas práticas dos tabloides, um tanto quanto perigosas e que não vão mudar, pelo menos não tão cedo. O que pode mudar é a nossa consciência e reação às mensagens tóxicas enterradas dentro destas histórias, aparentemente inofensivas, tentando moldar a verdade e as nossas ideias. Nós devemos começar a decidir o quanto vamos comprar do que está sendo servido, e talvez, algum dia, os tabloides sejam forçado a ver o mundo através de um outro ângulo, com um olhar mais humanizado, afinal, os consumidores tem que parar de comprar a besteira.”
*Carta traduzida pela equipe do blog Eu Devito.